Rosário de Gandhi

Rosário de Gandhi

 

Pensamentos diários do livro
“Mohan Mala” (Rosário de Gandhi),
publicado pela Self-Realization Fellowship

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Minha religião me ensina que sempre que surge uma aflição que não se consegue remover, deve-se jejuar e orar.

Para mim, é tão claro quanto a luz do dia que a vida e a morte nada mais são do que fases da mesma coisa, cara e coroa da mesma moeda. Na verdade, as tribulações e a morte me parecem apresentar uma fase muito mais rica do que a felicidade ou a vida. De que valem as coisas sem testes e tribulações, que são o sal da vida?

A morte não é amiga de ninguém, por isso é a mais verdadeira das amigas. Liberta-nos da agonia e nos ajuda, apesar de nós mesmos. Sempre nos dá novas chances, novas esperanças. Como o sono, é uma doce restauradora.

A morte, uma verdade eterna, significa revolução, assim como o nascimento e o além são uma evolução lenta e firme. A morte é tão necessária quanto a vida, para o crescimento do ser humano.

Nossa existência terrena é mais frágil do que algumas pulseiras de vidro usadas pelas mulheres. É possível conservar pulseiras de vidro por milhares de anos, se forem guardadas num porta jóias e ali permanecerem. Mas nossa existência é tão volúvel que pode acabar num piscar de olhos. Portanto, enquanto ainda respiramos, vamos nos livrar das diferenças de melhor e pior, purificar o coração e ficar prontos para encarar o Criador quando um terremoto, uma catástrofe natural ou a morte comum nos vencerem.

Há um propósito divino por trás de toda calamidade física. É bem possível que, um dia, o aperfeiçoamento da ciência possa antecipar a ocorrência de terremotos, como hoje antecipa os eclipses. Será mais um triunfo da mente humana. Mas esses triunfos, ainda que multiplicados ao infinito, não trazem a purificação do ego, sem a qual nada tem qualquer valor.

A fé não deve ser uma flor delicada que fenece sob a menor ameaça de tempestade. A fé é como as inalteráveis montanhas do Himalaia. Nenhuma tempestade consegue remover o Himalaia de sua base…E quero que todos cultivem este tipo de fé em Deus e na religião.

Pouco vale a fé que só floresce em tempo bom. Para ter valor, a fé precisa sobreviver ao mais duro dos testes. Sua fé é apenas um túmulo caiado, se não conseguir suportar a calúnia do mundo inteiro.

Sou um homem de fé. Só confio em Deus. Para mim basta um passo de cada vez. O próximo passo me será claramente indicado por Ele quando chegar a hora.

É a fé que nos conduz em meio a mares tempestuosos; é a fé que move montanhas e  salta pelos oceanos. A fé é a consciência divina em nós, viva e plenamente desperta. Quem adquire  fé não quer mais nada. Mesmo enfermo, tem saúde espiritual; ainda que pobre, nada em riquezas espirituais.

A fé é uma função do coração e a razão deve incorporá-la. As duas não são antagônicas, como pensam alguns. Quanto mais intensa for a fé, mais a razão é burilada. A fé morre quando fica cega.

Uma pessoa sem fé é como uma gota jogada para fora do oceano – está destinada a perecer. Cada gota do mar compartilha sua majestade com as outras e tem a honra de nos dar o ozônio da vida.

Sem fé, o mundo perderia o valor em um instante. A verdadeira fé é assumir as experiências de pessoas que acreditamos levarem uma vida purificada pela oração e pela penitência. Portanto, acreditar em profetas ou em encarnações que viveram em épocas remotas não é uma vã superstição, e sim a satisfação de um anseio espiritual.

Há assuntos para onde a razão não nos leva muito longe e temos que aceitar as coisas com base na fé. A fé então não contradiz a razão; transcende-a. A fé é uma espécie de sexto sentido que funciona em instâncias em que a razão não tem competência.

Experimente e descubra: se orar todos os dias, algo novo será acrescentado à sua vida, algo que não pode ser comparado a nada.

O homem é um ser falível e nunca pode ter certeza de seus passos. O que talvez considere como resposta às suas preces pode ser o eco do orgulho. Para receber orientação infalível, o ser humano precisa de um coração perfeitamente inocente, incapaz de fazer o mal.

Existem limites na capacidade de uma pessoa e no momento em que ela bajula a si mesma achando que pode fazer todas as tarefas, Deus vem para baixar seu orgulho.

Nossa prece é uma busca do coração. É um lembrete que somos indefesos sem o Seu apoio. Nenhum esforço é completo sem oração – sem o reconhecimento definitivo que o melhor empreendimento humano não funcionará, se não tiver as bênçãos de Deus por trás. A prece é um chamado à humildade, à autopurificação, à busca interior.

Só depois de nos reduzirmos ao nada é que podemos vencer o mal que há em nós. Deus não exige nada menos do que a renúncia completa como preço pela única liberdade real que vale a pena. E quando uma pessoa assim se perde, encontra-se imediatamente a serviço de tudo que vive. Torna-se um prazer e uma recreação. Eis uma nova pessoa que jamais se cansa de estar a serviço da Criação divina.

De certo modo, fumar é muito pior que beber, pois a vítima não percebe o mal a tempo. Fumar não é visto como sinal de barbárie; é até aclamado pelas pessoas civilizadas. Tudo que digo é: quem puder, pare de fumar e dê o exemplo.

 

Tenho tanto horror ao fumo quanto ao álcool. Considero o fumo um vício. Amortece a consciência da pessoa e pode ser muito pior do que o álcool, pois age imperceptivelmente. É um hábito difícil de combater, quando se apossa do indivíduo. É um vício caro. Emporcalha o hálito, mancha os dentes e pode causar câncer. É um hábito sujo.

Há tantas falhas no argumento de que seria uma interferência na liberdade das pessoas quanto no argumento de que leis proibindo o roubo interfeririam com o direito de roubar. Um ladrão rouba todas as posses terrenas; um bêbado rouba sua própria honra e a do vizinho.

Nada além da ruína aguarda a nação prisioneira do hábito da bebida. Os registros da História mostram que impérios foram destruídos por causa deste hábito.

As pessoas bebem por causa das condições a que estão reduzidas. São os operários de fábrica e outros que bebem. São abandonados, esquecidos e se refugiam na bebida. Por natureza, não são piores do que os santos ou os que não bebem. A maioria das pessoas é controlada pelo ambiente que as rodeia.

Considero a bebida pior do que o roubo e talvez até pior do que a prostituição. Pois não é comum ela ser a mãe destes dois?

Quanto Satanás se disfarça de paladino da liberdade, da civiliação, da cultura e de coisas parecidas, torna-se praticamente irresistível.

As drogas e a bebida são os dois braços do diabo, com os quais ele golpeia suas vítimas indefesas, até deixá-las no mais completo estupor e na mais completa embriaguez.

O conhecimento sem caráter é uma força só para o mal, como se vê nos exemplos de tantos “ladrões talentosos” e “cavalheiros malandros” no mundo.

Todo o aprendizado ou capacidade de recitar os Vedas, todo o conhecimento correto de sânscrito, latim, grego e sabe lá o que mais não nos servirá de nada, se não nos capacitarem a cultivar pureza absoluta no coração. O fim de todo conhecimento deve ser a construção do caráter.

Assim como um esplêndido palácio que foi desertado por seus ocupantes tem a aparência de uma ruína, o mesmo ocorre com um homem sem caráter, por mais posses materiais que tenha.

O vapor só é uma energia poderosa depois que se deixa aprisionar num  reservatório pequeno e resistente e se permite escoar por uma pequena e calculada saída, produzindo um movimento tremendo e carregando pesos gigantescos. Do mesmo modo, a juventude do país precisa permitir de livre arbítrio que sua energia inexaurível seja aprisionada, controlada e liberada em quatidades estritamente calculadas e necessárias.

A inocência da juventude é uma posse inestimável, que não deve ser desperdiçada às custas de entusiasmos passageiros e prazeres que não merecem esse nome.

A disciplina jamais arruina a saúde. O que acaba com a saúde não é a disciplina, e sim a repressão. Um pessoa realmente disciplinada fica cada vez mais forte e mais pacífica, dia após dia. O primeiro passo para a autodisciplina é dominar os pensamentos.

A limpeza está próxima da divindade. Não podemos receber as bênçãos de Deus com um corpo impuro, assim como não as podemos receber com a mente impura. Um corpo limpo não consegue viver numa cidade suja.

Acredito que uma alma saudável deve viver num corpo saudável. Portanto, se a alma se expande em saúde e liberdade das paixões, o corpo também se expande para esse estado.

O caminho da autopurificação é árduo e íngreme. Para alcançar a perfeita pureza, é preciso livrar-se completamente das paixões em pensamentos, palavras e atos e elevar-se acima das correntes opostas do amor e do ódio, do apego e da rejeição.

É muito fácil dizer: “Não acredito em Deus”, pois Deus permite que se diga impunemente qualquer coisa a Seu respeito. Ele olha nossos atos. E qualquer infração em Suas leis não atrai vingança, e sim um castigo purificador e constrangedor.

“Tem tu a certeza de que não perecerá quem confiar em mim”, diz o Senhor, mas que isso não se entenda como o fato de que nossos pecados serão apagados pela simples confiança Nele. Só aquele que luta árduamente contra as atrações dos objetos sensoriais e se volta para o Senhor em lágrimas e aflição é que será consolado.

O esforço bem intencionado e interiorizado nunca é feito em vão e o êxito está nisto. O resultado depende do ser humano.

Até a oração dos mais impuros será respondida. Digo isso a partir da experiência pessoal. Já passei pelo Purgatório. “Buscai primeiro o reino dos céus e tudo vos será acrescentado.

Dou meu próprio testemunho e digo que a prece sincera é, sem dúvida, o instrumento mais potente que o homem possui para vencer a covardia e todos os velhos maus hábitos. A oração é impossível sem uma fé viva na presença interior de Deus.

Nunca aceite a derrota numa causa santa e decida que, a partir de agora, você será puro e encontrará uma resposta de Deus. Mas Deus nunca responde às orações dos arrogantes, nem às orações dos que negociam com Ele.

Eu lhes passo um pouco da experiência de meus companheiros e da minha, quando digo que quem provou o poder mágico da oração pode ficar muitos dias sem se alimentar, mas não pode ficar um só momento sem oração. Sem oração não há paz interior.

Para orar, não é necessário falar. A prece independe de qualquer esforço sensorial. Não tenho a menor dúvida de que a prece é um meio infalível de limpar o coração das paixões. Mas deve ser combinada com humildade suprema.

Assim como o corpo precisa de alimento, a alma precisa de oração. Um homem pode ficar alguns dias sem comer – como MacSwine, que ficou mais de setenta dias sem comer – mas se acreditar em Deus, ele não pode e não deve ficar nem um momento sem orar.

A prece é a chave da manhã e a tranca da noite.

Swaraj (autogoverno, governo independente) é um termo sem sentido, se vamos manter um quinto da Índia sob sujeição perpétua e negar-lhes propositalmente os frutos da cultura nacional. Buscamos a ajuda de Deus neste grande movimento purificador, mas negamos direitos humanos aos mais merecedores dentre as criaturas divinas. Se nós mesmos nos comportamos de modo desumano, não podemos pleitear para outros o trono da libertação da desumanidade.

Deus não castiga diretamente. Seus modos são inescrutáveis. Quem sabe se todos os nossos  infortúnios não se devem a este pecado negro (manter uma casta de intocáveis)?

Será que não conseguimos enxergar que ao oprimirmos uma quinta parte (ou seja qual for a quantidade) de nós mesmos (os intocáveis), oprimimos a nós mesmos? Nenhum homem leva outro para uma vala sem que ele mesmo tenha que descer, com isso cometendo um pecado. Não é o oprimido que peca. É o opressor que terá que responder por seu crime a todos que oprimir.

Em minha opinião, a idéia de haver intocáveis é uma desgraça que nos acometeu. Acho que enquanto perpetuarmos isso continuarei a considerar tudo que nos aflige nesta terra santa como um castigo apropriado para este grande e indelével crime que estamos cometendo.

 

A idéia de “sou melhor” que está desfigurando o hinduísmo atual é uma excrescência. Revela mesquinhez mental e egocentrismo cego. É abominável, tanto para a moral quanto para o espírito da religião.

O conceito de uma casta “intocável” envenena o hinduísmo, assim como uma gota de arsênico pode envenenar o leite.

Igrejas, mesquitas e templos que abrigam muita hipocrisia e tapeação e não deixam os mais pobres entrarem são uma falsificação de Deus e do culto a Ele, se podemos ver o templo eternamente renovado de adoração sob a vasta tenda do azul, convidando todos ao verdadeiro culto, em vez de maltratar Seu nome com disputas em nome da religião.

Se alguém duvidar da infinita misericórdia de Deus, que dê uma olhada nos lugares santos. Quanta hipocrisia e falta de religiosidade perpetradas em nome do Príncipe dos Iogues!

Amargas experiências me ensinaram que nem todos os templos são casas de Deus. Podem ser moradas do demônio. Nenhum lugar de culto terá valor se a pessoa que dele cuide não for um bom homem de Deus. Templos, mesquitas e igrejas são o que o ser humano deles faz.

Antes de ir a um templo, devemos limpar o corpo, a mente e o coração e entrar em atitude de oração, pedindo a Deus para nos purificar ao passarmos pelos portais do templo. Se você aceitar este conselho de um idoso, a libertação física que você adquiriu será uma libertação da alma.

O fato de ganharmos ou não alguma coisa indo a templos depende de nossa condição mental. Temos que entrar no templo de modo humilde e penitente. Há tantas casas de Deus. Logicamente, Ele reside em todas as formas humanas. Na verdade, reside em cada partícula da Criação, em tudo que está na Terra. Mas como nós, mortais falíveis, não entendemos o fato de que Deus está em tudo, atribuímos santidade especial aos templos e pensamos que Ele mora lá.

Nem todos os membros da família humana são filósofos. Podemos ser muito terrenos e não ficamos satisfeitos em contemplar o Deus Invisível. De um modo ou de outro, queremos algo que possamos ver e tocar, algo diante do qual possamos nos ajoelhar. Não importa se é um livro, um edifício vazio ou cheio de pessoas. Alguns ficarão satisfeitos com um livro, outros com um edifício vazio e muitos outros não ficarão satisfeitos enquanto não virem alguém habitando os prédios vazios.

Um bom hindu ou um bom muçulmano deve ser melhor hindu ou melhor muçulmano amando seu país. Não pode haver conflito entre os reais interesses do país e a religião. Se parece haver é porque existe algo errado com a religião da pessoa, isto é, com a moral da pessoa. A verdadeira religião significa bons pensamentos e boa conduta. O verdadeiro patriotismo também significa bons pensamentos e boa conduta. É errado comparar dois sinônimos.

Para mim, Deus e a Verdade são termos permutáveis, e se alguém me disser que Deus é um deus de mentira e tortura eu desistiria de adorá-lo. Portanto, na política também temos que estabelecer o Reino dos Céus.

Para mim, a política desprovida de espiritualidade é sujeira absoluta que se deve sempre evitar. A política tem a ver com a nação e o que tem a ver com as nações deve ser um dos interesses da pessoa com inclinações religiosas; em outras palavras, de um buscador de Deus e da Verdade.

Não conheço nenhuma outra religião além da ação humana. Ela dá uma base moral a todas as outras atividades que, do contrário, não a teriam, o que reduziria a vida a um labirinto de sons e de fúria sem sentido.

A religião que não considera as questões práticas e não ajuda a resolvê-las não é religião.

Para tolerar uma coisa, não é preciso que eu a aprove. Comer carne vermelha, fumar e beber são coisas que me desagradam totalmente, mas eu as tolero em hindus, muçulmanos e cristãos, assim como espero que eles tolerem que eu me abstenha de tudo isso.

A tolerância nos dá percepção espiritual, que está tão longe do fanatismo como o polo Norte está longe do Sul. O verdadeiro conhecimento da religião destrói as barreiras entre uma fé e outra.

A religião única está além de qualquer palavra. Os homens imperfeitos colocam-na na linguagem que conseguem e suas palavras são interpretadas por outros homens, igualmente imperfeitos. Então deve-se considerar como certa a intepretação de quem? De seu ponto de vista pessoal todos estão certos, mas não é totalmente impossível que todos estejam errados. Daí a necessidade da tolerância, que não significa indiferença à nossa fé, e sim um amor mais inteligente e puro por ela.

Há muito tempo cheguei à conclusão, depois de orar, estudar e debater com o maior número de pessoas que encontrei, que todas as religiões são verdadeiras; e também que todas têm alguns erros e que devo estimar as outras fés como estimo o hinduísmo. Disso segue-se, logicamente, que devemos estimar todas como estimamos nossos amigos mais queridos e que não devemos diferenciá-las.

A árvore tem um tronco só, mas muitos galhos e folhas. Portanto, há uma só verdade e uma religião perfeita que se torna muitas, à medida que passa pelo meio humano.

Todas as fés são uma revelação da Verdade, mas todas são imperfeitas e passíveis de erro. A reverência por outras fés não deve nos deixar cegos aos seus defeitos. Também temos que estar profundamente atentos aos defeitos de nossa própria fé, mas tentando vencê-los. Analisando todas as religiões com visão imparcial, não hesitaremos em considerar um dever assimilar em nossa fé todas as características aceitáveis das outras.

Ainda não percebemos a religião perfeitamente, assim como não percebemos Deus perfeitamente. A religião de nossa concepção, sendo portanto imperfeita, está sempre sujeita aos processos de evolução e reinterpretação. O progresso rumo a Deus, rumo à Verdade, só é possível por causa dessa evolução. E se todas as fés escolhidas pelo ser humano são imperfeitas, a questão do mérito comparativo inexiste.

Se tivéssemos plena visão da Verdade, não seríamos mais meros buscadores e sim estaríamos unidos a Deus, pois Deus é Verdade. Mas sendo apenas buscadores, seguimos na busca e temos consciência de nossa imperfeição. E se somos imperfeitos, a religião como a concebemos também deve ser imperfeita.

A pefeição é atributo exclusivo de Deus e é indescritível e intraduzível. Acredito ser possível que todos os seres humanos se tornem tão perfeitos quanto Deus. É necessário que todos nós aspiremos à perfeição, mas quando se alcança este estado abençoado, é algo indescritível e indefinível.

Acredito que todas as grandes religiões do mundo sejam mais ou menos verdadeiras. Digo “mais ou menos” por achar que tudo que a mão humana toca torna-se imperfeito, pois os seres humanos são imperfeitos.

Acredito na verdade fundamental de todas as religiões. Acredito que Deus transmitiu todas e que eram necessárias aos povos a quem foram reveladas. E acredito que se todos nós lêssemos as escrituras das diferentes fés sob o ponto de vista de seus seguidores descobriríamos que, no fundo, todas são uma só e se ajudam mutuamente.

Crer num Deus único é a pedra fundamental de todas as religiões. Mas não vejo um tempo em que vá existir só uma religião no mundo. Em teoria, como existe apenas um Deus, só deveria haver uma religião. Mas na prática, não conheço 2 pessoas com o mesmo conceito de Deus. Portanto, acho que sempre haverá religiões diferentes respondendo aos diferentes temperamentos e condições climáticas.

As religiões são estradas diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importa se vamos por estradas diferentes, desde que alcancemos o mesmo objetivo!

A experiência me ensinou que o silêncio faz parte da disciplina espiritual do partidário da verdade. A tendência a exagerar, esconder ou modificar a verdade, de propósito ou não, é uma fraqueza humana natural e o silêncio é necessário para vencer isso. Um homem de poucas palavras raramente será imprudente em sua fala, pois medirá tudo que disser.

O silêncio é de grande ajuda para quem busca a verdade. É na atitude de silêncio que a alma encontra o caminho com mais clareza; o que é passageiro e enganoso se apresenta com transparência cristalina. A vida é uma longa e árdua busca pela Verdade e a alma pede calma interior para atingir sua elevação suprema.

Sob o ponto de vista da Verdade pura, o corpo também é uma posse. Diz-se que o desejo de prazer vai criando corpos para a alma. Quando o desejo desaparece, desaparece a necessidade de um corpo e o ser humano fica livre do círculo vicioso de nascimentos e mortes.

Como seria lindo se todos, homens e mulheres, nos dedicássemos totalmente à Verdade em tudo que fazemos enquanto estamos acordados: trabalhando, comendo, bebendo ou brincando, até a morte do corpo nos unir à Verdade.

Onde não há Verdade, não pode haver o verdadeiro conhecimento. É por isso que a palavra Chit, ou conhecimento, é associada ao nome de Deus. E onde existe conhecimento verdadeiro sempre há bem-aventurança (Ananda). A tristeza não encontra lugar aí. Como a Verdade é eterna, também é eterna a bem-aventurança decorrente disso. Assim conhecemos Deus como Sat-chit-ananda, aquele que combina Verdade, Conhecimento e Bem-aventurança.

 




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