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A vida ensina pelas entrelinhas

A vida ensina pelas entrelinhas

Andrea Pavlovitsch

 

Autoajuda

"Jogue suas mãos para o céu, e aproveite se acaso tiver, alguém que você gostaria que estivesse sempre com você, na rua na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé".

Há alguns dias, recebi uma daquelas notícias avassaladoras, que fazem você não pensar em mais nada: uma grande amiga estava no hospital, passando por procedimentos cirúrgicos graves. Ela não corria perigo de morte, mas como convencer a minha mente turva e dramática de que isso era uma possibilidade remota? Depois de assistir tantos programas de TV, noticiários e tudo mais, sempre pensamos que os dramas da nossa vida são realmente maiores do que são. E não vamos exagerar, não é?

Mas o fato é que tudo isso me fez parar, novamente, e pensar (como se eu não fizesse isso o suficiente). E mesmo em meio a um turbilhão de coisas de trabalho e resoluções de ano novo uma pergunta me colocou uma pulga gorda atrás da orelha.

Quando vemos isso nos dá vontade de aproveitar a vida, não é? Vêm todos aqueles filminhos de filtro solar, de Shakespeare, Titãs, na nossa cabeça e pensamos "poxa, a vida termina rápido, é melhor aproveitá-la". Sim, mas a questão não é esta. A questão é: o que diabos é aproveitar a vida?

Será que aproveitar a vida é vender tudo, comprar um barco e atravessar o oceano com um estoque de comida enlatada e um rádio que não pega metade do caminho? Será que é vender água de coco, em Porto Seguro, ao som da última versão de Macarena em português? Será que aproveitar a vida é largar o seu namorado de três anos mornos e começar a dar uma de Samantha em "Sex and the City" pegando só o que dá? Afinal de contas, que é este tal de aproveitar a vida?

Eu acho que eu aproveito a vida. Meu trabalho, eu nem chamo de trabalho, porque eu amo demais e me levanto cada dia mais cedo para executá-lo. Eu sou curiosa ao ponto da minha mãe sempre dizer que não posso ver um saco fechado chegando em casa que eu abro e, assim, eu conheço um monte de coisas. Eu me considero uma pessoa amiga, pelo menos de mim mesma. Eu cometo algumas gafes, faço alguns disparates de vez em quando, mas a idéia de pular de pára-quedas me causa náuseas só de pensar. E aí? Será que eu deveria querer pular de pára-quedas ou voar de balão na Capadócia para estar de fato aproveitando a minha vida?

Depois de muito analisar e de deixar a minha intuição falar um pouco mais do que isso, cheguei a uma conclusão. Aproveitar a vida é ser você mesmo! Se o que a deixa feliz é limpar a casa todinha e fazer um belo jantar para o seu marido, mesmo sem ter nunca saído do seu bairro, que ótimo, você está aproveitando a sua vida. Se o mais importante é se aventurar em uma terra desconhecida e você o faz mesmo que tudo seja planejado metodicamente... Que bom, você também está aproveitando a sua.

O que não é aproveitar a vida, para mim é, mesmo tendo tudo isso, não ter paz no espírito ou no coração. Não conhecer a si mesmo a ponto de não ter a menor idéia do que quer fazer com a sua vida. Não olhar para dentro e continuar procurando do lado de fora de você a resposta para todos os seus problemas, seja num amor, numa viagem, indo pro Oriente Médio ou sendo rica e famosa. Não aproveita a vida quem não olha o por do sol, mesmo que seja da laje de um barraco e se sente emocionado, lá no fundinho, com o espetáculo que é a natureza. Não aproveita a vida quem está com pressa de ser e de ter. Quem tem pressa de ser mais feliz, não está aproveitando a vida, mas a encurtando. Quem está preso na própria ansiedade não vive em mundo algum, está só flutuando como um dente-de-leão procurando um solo seguro para se firmar. Quem acha que a felicidade está "lá", seja lá onde este "lá" for.

É claro que eu quero realizações. Mas eu só posso me realizar quando eu viver a experiência por si só. Quando eu tiver um filho, não porque eu quero que alguém cuide de mim na velhice ou porque eu quero ter para quem deixar os meus anéis, mas porque eu quero saber como é a experiência de cuidar de um corpo pequeno que recebeu uma alma grandiosa (sim, porque todas as almas são grandiosas).
Eu aproveito a vida no café que eu tomo com a minha prima no shopping, mesmo que eu tome aquele café pela milésima vez. Aproveito a vida comendo o meu pastel de camarão na feira, comprando meus vasinhos de plantas e vendo uma semente virar um morango. Eu aproveito a vida quando abro meu armário pela manhã e quero, tenho o tesão de escolher uma roupa linda porque é isso que eu mereço. Porque, por mais piegas e lugar-comum que isso possa parecer, a vida é só o que temo no hoje. O amanhã não chegou. O ontem já passou. E o desespero chega justamente quando queremos algo que tínhamos ontem e não temos, ou que queremos saber se teremos amanhã. Até porque, a hora da morte é sagrada e também precisa ser aproveitada como um novo nascimento. Um nascimento de outro nível, em outras esferas que deverão também ser muito bem aproveitadas.

Aproveite que está lendo este texto, e se perceba. Perceba como está sentado, perceba as partes do seu corpo, o contato do seu corpo com a cadeira. Perceba a maciez das coisas ao seu redor, as cores, os cheiros. Perceba qual é o seu sentido mais aguçado. Isso é viver e aproveitar. No aqui e no agora, da maneira como as coisas são ou estão. Ame intensamente como não se houvesse amanhã. Porque, quando chegar o amanhã, ele será o seu hoje mesmo. Largue a carga que você carrega de ter uma lista enorme de obrigações. Sinta o prazer de ser.

Aproveitar a vida é ter prazer. Por que a dor virá, inevitavelmente.

Pense nisso!

P.S.1 Minha amiga está ótima, em casa e se recuperando.

P.S.2. Estes P.S.s são para você!



Andrea Pavlovitsch
Psicoterapeuta
(11) 4106 3795 / (11) 8132 7126
andreapavlovitsch@uol.com.br




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